quarta-feira, novembro 30, 2011

UE/Cimeira: Moeda única da África Ocidental pouco incomodada com crise europeia... Opiniao do economista guineense Josue Almeida


Na imprensa "online" de países como o Senegal, Togo ou Níger a cimeira de Bruxelas não é destacada e na Guiné-Bissau, país de língua portuguesa mas que faz parte da UEMOA (União Económica e Monetária do Oeste Africano) e que adotou a moeda única Franco CFA, o tema também não é referenciado.
Então e se o euro acabasse? "Tudo dependeria da França", explica à Agência Lusa em Bissau o economista Josué de Almeida, encolhendo os ombros e lembrando que já antes do euro existia o Franco CFA comum em vários países africanos, antigas colónias francesas quase todos.
"Aqui estamos relativamente protegidos pelo tesouro francês. Quase 80 por cento das nossas reservas cambiais estão depositadas no tesouro francês, temos uma cobertura", e além disso não é a França um dos países que está em "maus lençóis", diz Josué de Almeida, funcionário durante sete anos do FMI e recentemente economista sénior do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) em Angola.
Basicamente, resume, a crise europeia pouco poderá afetar o Franco CFA da UEMOA, que junta além da Guiné-Bissau, do Senegal, do Togo e da Nigéria ainda o Benim, o Burkina Faso, a Costa do Marfim e o Máli. Todos fundadores em 1994, com exceção da Guiné-Bissau, que se juntou apenas em 1997.
Josué de Almeida garante que aderir ao Franco CFA foi a melhor opção. É certo, reconhece, que se perderam os instrumentos de política monetária, ganhando-se no entanto na estabilidade e na boa gestão dessa política, e na redução da inflação.
Se o Franco CFA estava "atrelado" ao Franco francês passou depois a estar também ligado ao euro ("perdemos competitividade quando o euro se apreciou face ao dólar", diz), e voltaria a ficar ligado à moeda francesa se um dia o euro acabasse, com o inconveniente de depender das políticas monetárias do país.
Mas a adesão da Guiné-Bissau à UEMOA foi definitivamente boa: "se não tivéssemos essa moeda o país teria acabado. As pessoas aqui dizem que ter a mesma moeda é ter a mesma língua e o comércio é facilitado, além de se enfrentar melhor os choques externos".
É certo que um país soberano em termos de política monetária poderá parecer vantajoso. "Se Portugal tivesse o escudo era só imprimir mais dinheiro". Mas "perder a política monetária não é nunca uma desvantagem", assegura o economista, licenciado pela Universidade Nova de Lisboa.
E prova disso, diz, é que "já se fala" que a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) irá também criar uma moeda única.
Olhando a Europa a pouco mais de três mil quilómetros, Josué de Almeida diz que há muito percebeu que "ia acontecer o que está a acontecer", porque "ninguém pode gastar mais do que tem", e deixa um aviso a Portugal: "quando se pedem sacrifícios as pessoas têm de ter a certeza de que vale a pena, e essa mensagem falta".
O Franco CFA (Communauté Financière Africaine, Comunidade Financeira Africana) derivou do antigo CFA que queria dizer Colónias Francesas em África e que surgiu na década de 40 do século passado. É hoje a moeda de 14 países africanos, na zona ocidental e central do continente.

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