quinta-feira, dezembro 17, 2009

África tem de apostar nela própria, dizem economistas em conferência Millennium Bim

Economistas moçambicanos divergiram em Maputo sobre a amplitude da crise mundial, mas concordaram que África só pode desenvolver-se apostando em factores internos, porque as ajudas internacionais são enganadoras.




Uma visão transmitida durante a 5ª. Conferência Económica do Millennium Bim, o maior banco moçambicano, cujo capital social é detido maioritariamente pelo Millennium BCP, de Portugal.



Durante a tarde Rajendra de Sousa, Abdul Magid Osman e João Mosca debateram o "Desenvolvimento económico em África no período pós-crise no contexto das alterações geoestratégicas de poder", defendendo que o continente africano tem de olhar para dentro de si procurar soluções endógenas para o desenvolvimento.



A discussão centrou-se à volta da crise mundial mas também nas relações da China com África e da dependência deste continente em relação à ajuda internacional. João Mosca, economista e professor, considera que a grande parte dos Governos do continente não está interessada na "endogeneização dos processos de desenvolvimento económico" e considera Moçambique um exemplo. A economia, diz, é movida essencialmente graças a recursos externos, mas o investimento externo é virado para a exportação, sendo esse o interesse dominante dos agentes económicos e não sendo fácil aos Governos "entrar em linha de ruptura com esta teia de relações".



"Se calhar o melhor que nos vai acontecer é os recursos externos começarem a escassear e termos de nos voltar para nós", diz Rajendra de Sousa, doutorado em sociologia e especialista em desenvolvimento rural.



A situação de África também não é a melhor para atrair investimento estrangeiro, segundo Magid Osman, antigo ministro das Finanças, comparando o continente com a China, que tem capacidade financeira e de construção. "Um bom investidor está de óculos escuros, não está a ver a localização do país, está à procura de retorno de capitais", diz, acrescentando que África, "sem infra-estruturas, sem telecomunicações, sem mão-de-obra qualificada" acaba por "passar ao lado". Um dólar investido na China faz 1,30 dólares, um dólar em África faz 60 cêntimos, afirma.



Transversal a tudo isto há uma crise que começou há um ano e três meses, como recorda João Figueiredo, presidente da Comissão Executiva do Millennium Bim. Crise que, diz, começou por ser financeira, depois passou a económica e finalmente a social, esta de mais difícil recuperação. Moçambique, afirma o responsável, embora com menos efeitos, acabou por sofrer com a queda do investimento estrangeiro e atrasos na concretização de projectos. Agora, diz João Figueiredo, parece que "a crise pode ter chegado ao fim", tudo indicando que se tenha surgido "uma nova ordem internacional".



Para João Mosca esta foi "uma crise de curto prazo, conjuntural, com efeitos fortes nos países desenvolvidos mas em que África sofreu bastante lateralmente", embora, por se tratar de um continente em desenvolvimento, o "bastante lateralmente" seja relativo.



Magid Osman defende, ao contrário, que a crise provocou "alterações profundas".



Com todos a defenderem que a grande oportunidade para África saída da crise é a procura de modelos de maior endogeneização dos processos de desenvolvimento; e a ser consensual também que África não pode influenciar a economia internacional; da assistência veio também um alerta: "fala-se muito do novo milénio e nós aqui nem sequer uma bicicleta sabemos fazer".

Fonte; Lusa

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