quinta-feira, janeiro 31, 2013

Brics vão criar alternativa ao Banco Mundial


Os Brics, sigla que reúne o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, deverão ultimar a criação do seu projectado banco de desenvolvimento na cimeira que terá lugar no próximo mês de Março em Durban. Anil Sooklal, do departamento sul-africano de Relações Internacionais e Cooperação, citada pela Voz da América, diz que a localização da sede do banco ainda não está decidida, não tendo ainda também sido discutido o fundo inicial. Mas Sooklal adianta que deverá ascender a USD 50 mil milhões, considerando que USD 10 mil milhões por cada um dos cinco membros parece ser um montante confortável para todos eles. O capital inicial de USD 50 mil milhões é ligeiramente inferior ao que a China já empresta aos países pobres e iguala a média anual de empréstimos concedidos pelo Banco Mundial.
‘Devo notar também que há vontade política para ter este banco. Não há dúvidas a esse respeito – há vontade política de todos os países do Brics, uma vez que nos bancos multilaterais os fundos estão a secar e os bancos do norte têm os seus próprios problemas’, afirma o diplomata sul-africano. Segundo Sooklal há cada vez menos capital líquido para investir e, actualmente, dois terços das reservas são dos países em vias de desenvolvimento, sendo que a maior parte destes dois terços pertencem aos Brics.
A África do Sul, que se associou ao grupo das novas potências emergentes no final de 2010, e o único país africano que o integra, encarou sempre com algumas reservas o G8 – grupo das oito maiores economias mundiais. O grupo de nações do hemisfério norte determina o curso da economia mundial baseado nos interesses dos seus membros, interesses esses que são impostos ao resto do mundo, considera a África do Sul.
O grupo dos Brics representa 20% do PIB mundial (cerca de USD 18 mil milhões) e alberga 40% da população do planeta.
INICIATIVA INDIANA
A decisão de criar um banco de desenvolvimento específico para a região dos Brics foi tomada em Março de 2012, na 4ª cimeira do grupo que teve lugar na Índia, em Nova Deli. Numa declaração conjunta assinada pela presidente brasileira Dilma Rousseff e pelos presidentes Dmitri Medvedev (Rússia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul), além do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, efectuada no encerramento da 4ª Cúpula do Brics, em Nova Delhi, os cinco países comprometiam-se em empenhar-se na criação de um banco de desenvolvimento específico para a região do Brics. Foi ainda decidido que um grupo de trabalho, constituido por técnicos das cinco nações, iria efectuar os estudos para organizar e montar a instituição financeira, salvaguardando-se que, antes da consolidação da nova instituição, os cinco países continuariam a negociar com recurso ás respectivas moedas.
A proposta de criação do banco de desenvolvimento do Brics foi apresentada pelo primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh. A proposta indiana foi apresentada, a primeira vez, durante uma reunião de ministros das Finanças e dirigentes dos bancos centrais dos Brics no México. A ideia é que a nova instituição seja uma espécie de alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Para os indianos o objectivo é estabelecer um mecanismo que permita o financiamento de projectos exclusivamente nos países em desenvolvimento. O surgimento da nova instituição permitirá ainda pressionar o FMI e o BM a mudar s sua correlação de forças interna, há muito reclamada pelas economias emergentes.
A presidência da instituição deve ser rotativa entre os cinco integrantes do Brics. Paralelamente, os líderes presentes aos debates deverão reiterar a defesa da ampliação do FMI.
A cimeira em Durban, no final de Março, deverá contar com 800 participantes (entre eles muitos empresários) dos cinco países do Brics. A primeira cimeira dos Bric teve lugar na Rússia em 2009 e a África do Sul passou a integrar o grupo em 2010, altura em que o acrónimo, criado por Jim O’Neill, da Goldman Sachs, mudou para Brics.
No entanto, a força inicial dos Brics começa a ser questionada por alguns alistas. Os países que integram o grupo não só se ressentiram da crise internacional, abrandando a sua velocidade de crescimento, como enfrentam uma ‘agenda interna’, ou seja, problemas entre si, que não são de fácil solução.
Como afirmava ainda no início deste mês Bob Davis, correspondente de The Wall Street Journal em Pequim, ‘a esperança de que os países dos Brics se ajudariam entre si, aumentando o comércio, o investimento e o apoio político, esvaiu-se. Autoridades e analistas dos Brics afirmam que eles agem tanto como concorrentes quanto como aliados e que um dos seus problemas reside nessa falta de coesão’.

Artigo: O Pais 

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