domingo, novembro 21, 2010

O crescimento econômico na África não é apenas o resultado do incremento no comércio com a Ásia, particularmente com a China. "É o resultado das nossas próprias reformas"

O fator “feel good” surtiu o efeito de um bálsamo. O clima durante a conferência na Tunísia sobre as economias do continente africano foi marcado pela confiança reconquistada. "Nunca estive tão positivo", declarou o presidente Donald Kaberuka do Banco Africano de Desenvolvimento (ADB, African Developpment Bank), dando expressão a seu otimismo.
O crescimento econômico na África não é apenas o resultado do incremento no comércio com a Ásia, particularmente com a China. "É o resultado das nossas próprias reformas", enfatizou o vice-presidente da ADB, Mthuli Ncube. Um relatório do Fundo Monetário Internacional aumentou ainda mais o entusiasmo.
A África sairá quase incólume da crise financeira mundial, prevê o FMI. A média de crescimento anual de cinco por cento desde 2000 recaiu no ano passado aos 2,5 por cento. Este ano, no entanto, a economia de África cresce outros cinco por cento, e se prevê que cresça no próximo ano ainda mais.
Cinismo do ocidente
Economistas africanos e diretores de bancos centrais falaram na capital da Tunísia, Túnis sobre como fazer perdurar o clima atual. E como evitar que a África embarque temporariamente na boa fortuna da economia mundial para em seguida recair na miséria. Porque, como alertou o palestrante convidado, Pascal Lamy, diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC): "Uma dependência excessiva de exportações de matéria-prima é perigosa". Em outras palavras, a África não se deve deixar ofuscar pela crescente demanda de matéria-prima da China.
Palestrante após palestrante, todos salientaram que o “impacto China” (China bashing) se verifica principalmente nos países ocidentais. Países asiáticos como a China, a Índia e a Malásia reconhecem abertamente o dinamismo africano e o potencial que ele representa; seu otimismo, que contrasta com o cinismo ocidental, surte um efeito contagiante.
"Colonizados"
Mas também surgem as dúvidas. Alguns até falaram sobre o fim da lua de mel com a China. Centenas de milhares de trabalhadores chineses passaram no meio tempo a trabalhar em projetos de infraestrutura financiados pela China, e dezenas de milhares de chineses se encontram no comércio. Os empregos se veem ameaçados.
As réplicas para turistas da milenar mesquita de Túnis são fabricadas na China; na Nigéria, são os chineses quem tem o monopólio do comércio de chinelos; no Congo, são proprietários de casas de chá. "Se não tomarmos cuidado, voltaremos a ser colonizados, a pedido próprio, mas dessa vez pela China", adverte o economista etíope Fantu Cheru.
A China realiza projetos de desenvolvimento em troca de matérias-primas. Será este um novo tipo de trabalho de desenvolvimento? Ou uma alternativa para o envolvimento ocidental na África? Como maiores ameaças ao crescimento são citadas a infraestrutura deficiente e a falta crônica de energia elétrica.
A fim de estimular o comércio e o setor agrícola subdesenvolvido, seriam necessários vinte bilhões de dólares de investimento. E a China pode e quer reunir esses bilhões para a construção de dezenas de milhares de quilômetros de caminho asfaltado e de linhas ferroviárias, para o investimento em hidrelétricas e em telecomunicações.
Diáspora
A fim de reduzir sua dependência da China ou do ocidente, a África deveria explorar o continente em busca de seus próprios recursos financeiros. O sistema de cobrança de imposto deve ser melhorado, e as saídas de capital ilegal, impedidas. Uma atraente fonte de renda provém dos cerca de 29 milhões de africanos que vivem fora da terra natal. Só em 2008, eles enviaram cerca de 21 bilhões de dólares aos respectivos países de origem.
A ajuda ao desenvolvimento tem sido, de acordo com alguns, menor que as transferências por africanos na diáspora. O auxílio continua desempenhando um papel decisivo nos países pobres. A ajuda ainda é necessária. Podar o orçamento de fomento ao desenvolvimento, como aconteceu por exemplo dentro do governo holandês, é sentido pelos economistas africanos como demonstração "de vista curta", pois freia o potencial de crescimento da economia global.
Os dados macroeconômicos mostram que a África está finalmente em ascensão, mas continua a ser o continente mais pobre do planeta. Para lutar eficazmente contra a pobreza em massa é necessário um crescimento de mais de dez por cento, calculam os economistas na conferência de Túnis. A taxa de crescimento é atualmente de cinco por cento. E suas relações com a China sofrem pressão.

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